Isolamento Social: A realidade de quem sou

11/04/2020

"Hoje não dá, tenho aula! Amanhã à noite? cinema com os amigos. Acordar cedo para pegar o ônibus, chegar cedo no trabalho pra ganhar uns pontos extras com os chefes. Fim de semana dia de ir às compras, renovar o guarda roupa, ir a uma festa e aquele casamento do ano. Preciso de um carro novo, ou postar uma fotos legais nas minhas redes sociais. Estou tão cansado! Tão estressado. Não aguento a rotina da igreja, os cultos semanais tornaram-se gelo, pelo menos eu consigo cumprir a agenda e não me sinto tão culpado por ter faltado um dia de encontro na minha igreja, uma reunião de célula ou uma reunião de oração. Assim é mais fácil me enganar. Minha agenda cheia de ativismo religioso me mantem ocupado e me faz sentir menos culpado disfarçando um pouco meu egocentrismo.

Gostaria tanto de ficar em casa um pouco, sem responsabilidades, sem ativismo. Sinto-me longe de mim mesmo. Parece que quando vou a um culto eu não estou lá, a vedade é que já fazia um tempor que eu queria sair de lá, deixar as velhas filosofias religiosas. Minha oração misturada com sonhos antes de dormir. Não posso parar.

A garota da escola vai estar lá amanhã. Meu amante. As festas com os amigos, jogar conversa fora e curtições em grupo. Agora eu estou sozinho. Pensando na vida e parece que nada disso faz o mínimo sentido. O som do mundo foi reduzido a zero e agora eu consigo me ouvir. O grito ofuscado pela rotina, pelos encontros, pelas festas, pela religião, pela boa vida deu lugar ao medo. Medo de morrer. Medo da possiblidade de não conseguir respirar por causa de um inimigo que não se pode ver. Mas será mesmo que o inimigo apareceu ou apenas materializou-se em caos econômico, em moribundos largados nas ruas, em disputas políticas, em pessoas mortas. Sim sempre esteve lá, mas agora o mundo todo o sabe, o percebe, o vê, ele tomou proporções mundiais, e atingiu até os palácios, a monarquia, o alto clero e as mais populares igrejas ao redor do mundo. Ninguêm pode ofuscá-lo. Todos podem sentir o terror. No entanto, existe dentro de mim aquele terror, aquele mesmo que me acompanhava em minhas rotinas. No entanto, só agora eu estou percebendo o quanto era grande o meu grito. Sozinho em casa, tento fazer com que as trasmissões ao vivo das coisas de plástico que eu alimentava possam calar minha dor. Tento fazer com que as maratonadas dos meus seriados favoritos curem ou pelo menos disfarçem a angústia do meu ser. Como e não me satisfaço, a comida não satisfaz como eu achava que poderia.

Agora eu consigo perceber quem eu realmente sou. O que é mais importante. O que é mais interessante que aquelas coisas de plástico que eu via e que rotinareimente tomavam conta da minha semana, nenhuma delas podem me manter vivo agora. Eu tento me alimentar delas agora sozinho em casa, mas quanto mais me encho delas mais esvazio a minha alma. Não tenho como compensar essa dor indo a Templos ou na religião, por que agora eu sei quem eu sou. Não consigo fingir a reunião solene, as canções não fazem sentido. Não existe ninguém me vendo agora, ninguém me elogiando ou me observando. Somente o invisivel está ao meu redor. Meu Ego está cada vez mais morrendo. Meus sonhos e planos para o futuro viraram cinzas que queimaram em um fogo repentino.

Agora eu sei quem eu sou ou, aliás, quem eu não sou mais. Meu mundo se desfez e a verdade veio à tona. Miserável homem que sou, aonde posso ir a fim de escapar do teu Espírito? Para onde posso fugir da tua presença? Se eu subir ao céu, tu lá estás; se descer ao mundo dos mortos, lá estás também. Se eu voar para o Oriente ou for viver nos lugares mais distantes do Ocidente, ainda ali a tua mão me guia, ainda ali tu me ajudas. Eu poderia pedir que a escuridão me escondesse e que em volta de mim a luz virasse noite; mas isso não adiantaria nada porque para ti a escuridão não é escura, e a noite é tão clara como o dia. Ó Deus, examina-me e conhece o meu coração! Prova-me e conhece os meus pensamentos. Vê se há em mim algum pecado e guia-me pelo caminho eterno. Desvia de mim o teu olhar, para que eu possa ter um pouco de felicidade, antes que eu vá embora e não exista mais".

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