O dia que tudo despontou: Minha experiência com a Síndrome do Pânico - Parte I

30/03/2020

Era Setembro de 2019, o ritmo era frenético: Uma jornada de trabalho de 07h às 17h; uma microempresa para gerenciar (atender clientes, prospectar, negociar, digitar relatórios, realizar treinamentos e etc); estudar para o concurso público ideal; último período da faculdade de engenharia (TCC, provas, estágio, horas complementares e etc); cuidar do lar e marido; dormir. Tudo isso em 24h por dia, 7 dias por semana. A ansiedade já era rotina há pelo menos 4 anos, algo que não dava importânica e achava, de certa forma, normal pelo ritmo de vida que eu tinha. A síndrome, no entanto, parece ter se manifestado no início de Setembro daquele ano: Uma dor no peito direito que iniciava desde o momento que eu entrava no carro para iniciar minha rotina e só cessava quando eu chegava em casa e estava prestes a dormir. A dor era contínua o dia inteiro, como um punhal que parecia atravessar meu pulmão me deixando um pouco sem ar. Eu não descansava quando eu dormia, dormia exausta e acordava cansada. Um cansaço sem fim nas pernas, uma agonia interior, e o punhal cruzado no peito só me deixava mais ansiosa. Tudo ficava pior quando eu tentava estudar, não conseguia ler e eu precisava, pois o certame do concurso público a qual eu desejava era no mês seguinte.

Sim! Eu lembro, como se fosse hoje: Despertador às 6e30h: "Acorda está na hora de sair!": Uma batida de laranja, mamão e mel, quando dava, pra tentar melhorar a prisão de ventre. O café da manhã na hora do expediente. A oração bem rápida feita antes de sair, com o pensamento no trânsito que eu estava prestes a enfrentar. O stress de ter que atender pessoas na minha sala. O stress por coisas que eu não podia controlar. O estudo atravessado nos espaços que sobravam no dia: depois do expediente, no almoço, no intervalo das aulas. A fome era algo que não existia, talvez existisse, mas a vontade de comer não. A hora do almoço era a pior. A constipação era permanente (a felicidade maior era de conseguir ir ao banheiro). Depois do trabalho, mais estudo! Antes de ir para a faculdade. As meditações meio que atravessadas durante o dia; a rotina desgastante sufocava qualquer meditação que eu tentava fazer. E foi assim que no dia 16 explodiu.

Sim era mais um dia da rotina maluca. Eu tinha jurado a mim mesma que aquela loucura seria efêmera e que assim que concluísse tudo eu iria hibernar e finalmente descansar de todo aquele trabalho, nos meus cálculos isso aconteceria em Dezembro. Eu reconhecia que a minha rotina era insana, mas eu sempre gostei de desafios. Minha mãe sempre dizia que eu queria "agarrar o mundo com as pernas". Ela tinha toda razão! desde quando eu me entendi por gente foi assim! Mas isso é uma outra historia.

Eu já vinha me estressando com tudo o que aparecia na minha frente, cheguei a ser mal educada com muitas pessoas do meu ambiente de trabalho. Mas nunca, nunca mesmo, imaginei que eu pudesse chegar ao ponto que cheguei. Eu estava na minha sala (minha não da empresa) quando senti a dor no peito se intensificar me deixando ofegante. Minhas mãos começaram a soar frio, não conseguia respirar normalmente, eu comecei a me tremer e a chorar apavorada com aquilo que eu estava sentindo. Senti meus dedos dos pés adormecerem, eu saí da sala, peguei o carro, e dirigi até o consultório médico (há alguns dias eu tinha marcado uma consulta com o cardiologista por conta da dor no peito). No caminho eu tentava me controlar e me acalmar. Quando eu cheguei na frente do médico despontou! Hiperventilação, eu ia morrer. Eu sabia que eu tava passando muito mal e eu queria socorro. Desespero. Pavor. Medo. O cardiologista fez todos os exames e o diagnostico médico: Síndrome do pânico. Uma caixa de rivotril e o pavor do nome da tal doença. Eu pensava comigo em crise: Eu enlouqueci. Desesperada saí de lá, comprei os remédios, tomei, tentei dormir. Eu senti meus pés dormentes até a noite quando contei pro meu marido e pra minha família

Pra mim aquilo estava errado, minha cabeça estava confusa, eu não podia parar, tinha meus objetivos de vida pra cumprir, e o concurso? Eu precisava muito estudar! Os dias que se seguiram foram de escuridão.

A partir daí não era só a ansiedade, as crises de pânico também: Nos consultórios, em casa... eu passei a ter medo de ter crises. Até aceitar tratamento médico e psicológico demorou um pouco. Foi difícil pra mim aceitar os remédios. Eu achava que eu precisava de descanso somente. Fiquei 10 dias em casa, indo à psiquiatras; estudando se tomaria ou não os remédios. A depressão não demorou a chegar. Eu já não queria fazer mais nada. Meu maior prazer era ficar em casa deitada, a ansiedade me seguia até assistindo vídeos no youtube. Mas depois dos dez dias tentei retornar à minha rotina. Fui pro meu emprego, até quis mudar de unidade, mas no primeiro dia do retorno, tive a crise mais forte de todas. Nem andar eu era capaz. Todos os sintomas vinham com força derrubando toda e qualquer chance de combate da minha parte. Eu me vi caindo em um abismo onde todas as minhas forças iam embora, durante a crise, um pranto descomunal, um choro de dor igualmente uma criança desmamada. Braços e pernas adormeciam, o desespero, medo, angústia; isso tudo sendo comtemplado dentro do local que eu trabalhava por meus colegas de trabalho e pessoas da gerência. A partir dali eu entendi que não seria tão fácil assim como eu pensava, e isso me deixava mais deprimida e ansiosa.

Continua...

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